Uma cena Caiçara...

A arte muitas vezes nasce das memórias e de como "gravamos" no cérebro as emoções e cenas que vivemos ou imaginamos.

Este quadro, para mim, retrata uma típica cena caiçara do litoral de São Paulo.

A ideia aqui foi capturar a simplicidade de um final de tarde em Ubatuba.

O barco de pesca acabou de chegar do mar, e foi um bom dia — o mar estava piscoso.Seu Zé da Rede exibe, orgulhoso, a rede cheia de peixes, enquanto Zizinha, uma menina criada na vila, já pula para dentro do barco e mostra o peixe que será o jantar de hoje!

Tia Eldacira, a matriarca e filha de Eldacir (o primeiro morador do Bonete e exímio artesão de canoas), precisa se sentar. Suas pernas, fortes e calejadas, já sentem o peso dos anos de trabalho duro. Mas, mesmo cansada, ela nunca tira os olhos da pequena Mariazinha, a caçula da família.

Cida, que realmente comanda o coreto, é uma mulher forte e a espinha dorsal da família. Como companheira fiel do Zé da Rede, está sempre ao lado dele, enfrentando os momentos bons e ruins, mantendo tudo em ordem e em movimento.

A irmã mais velha de Zizinha, já moça feita, observa discretamente Élton, sobrinho de Cida, para ver se ele nota sua presença. Élton, que ajuda o pai Ernesto a puxar o barco para a areia, também lança olhares tímidos para ela. Ele é jovem, esperto, forte, e já pescador. Ela, por sua vez, finge que não está nem aí, mas, no fundo, não é nada boba!

Enquanto isso, as gaivotas esperam atentas por um peixe que Seu Zé da Rede possa "deixar cair" de propósito. Os siris, com as garras prontas, aguardam ansiosamente por camarões que escapem da rede — um sinal de que nosso litoral ainda está bem preservado.

Lá nas pedras, o Tio Adailton joga sua tarrafa todo final de tarde. Ele nunca pega muita coisa, mas, há 40 anos, insiste que pega — já virou uma lenda viva local.

Mais ao fundo, o Tiê-Sangue observa um beija-flor, enquanto as saíras aproveitam as jacas maduras.

Essa é uma cena caiçara, onde a vida faz todo sentido...